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Cracker Blues  –  Uma Encruzilhada entre o Blues, o Rock, o Paraíso e o Inferno

Mais uma daquelas bandas que eu adoro e ninguém sabe. Até troco ideia vez por outra com o vocalista pelo Facebook, mas ele nem desconfia do quanto curto o som que fazem – bom, agora vai saber. Mais uma que tem rascunho salvo no Rock Universe e que finalmente tomo vergonha na cara, finalizo e publico.

Cracker Blues - Prata do CarrascoConheci o som da Cracker Blues em 2012. Um formato de Blues que me chamou a atenção desde o começo. Arranjos e letras que me dizem respeito e o principal: sinceridade artística. Quando eu ouço esse quarteto, bate uma saudade tremenda da época em que eu ainda tocava. Principalmente das trocentas jams de Blues com amigos, professores e conhecidos. Pouco antes de parar de tocar, entre outros sons, eu ficava viajando em letras e slides em um dos meus violões, justamente um que soava melhor com cordas de aço. Durante esse período, eu praticamente não ligava mais a guitarra, apenas fazia um rodízio de violões de Blues e Flamenco, sendo esses dois estilos verdadeiras orações diárias (ok, rolavam outros sons aqui e ali, principalmente músicas folclóricas de outras partes do mundo).

Era uma tentativa ainda imatura (e bastante pretensiosa, convenhamos) de soar cru, reverenciando os grandes Mestres do Blues, lá do começo da história. Até uma modesta coleção de gaitas eu tive, com as quais ao menos o básico aprendi. Bom, o fato é que a Cracker Blues me passa esse sentimento, reacende essa lembrança. Eu ouço agradecendo.

Do próprio Facebook da banda: “(…) Elementos do Blues Texano de ZZ Top, do Boogie de John Lee Hooker e do Rock Sulista de Lynyrd Skynyrd, unidos a poderosos riffs de slide guitar e letras marcantes criam características únicas na sonoridade da banda. Desde 1999, formada em São Paulo e se apresentando em grandes eventos e casas, como a Virada Cultural (SP), Credicard Hall (abrindo o show para o Creedence Clearwater Revisited), Bourbon Street Music Club (SP), Festival Roça ‘N’ Roll (MG) (…)”


O primeiro álbum da banda, “Entre o México e o Inferno” (2009), pega pelo pé e pela alma do início ao fim. De “Bolero Maldito” a “Oração para um Ordinário”, são 11 faixas transbordando Blues de gente grande.

Cracker Blues - Entre o México e o Inferno1. Bolero Maldito
2. Whisky Cabrón
3. Velha Tatuagem
4. Sangue de Segunda
5. Blues do Inimigo
6. Nascido em São Paulo
7. Tinhoso
8. Charles Bronson Blues
9. Que o Diabo lhe Carregue
10. Blues 56 – Lobo do Mar
11. Oração para um Ordinário


E o segundo, “Prata do Carrasco” (2014), não fica nadinha atrás. Nada mesmo. A atmosfera do primeiro disco continua lá, mas fiquei com a sensação de que o Blues deles está com um veneno um pouco mais Rock N Roll.

Cracker Blues - Prata do Carrasco

Cracker Blues – Prata do Carrasco

1. Trem do Inferno ao Paraguai; 2. Canto Obscuro de Um Bar; 3. Chorando Sobre Cafeína; 4. Toada Para o Cão Ernesto; 5. Caveira Chicana; 6. A Discreta Arte do Mau Olhado; 7. Lágrima Para Ernest Borgnine; 8. Jaula Enferrujada; 9. O Chão Sob Minhas Botas; 10. Óleo; 11. Ciganos Velhos e Músicas Tristes.

As letras inteligentes do vocalista e gaitista Paulo Coruja tem uma pegada densa, pode-se dizer até meio malvada. São realmente letras de um homem do Blues, não de alguém tentando soar Blues, você sente a energia, um sentimento bruto e legítimo. Coruja tem a voz perfeita para o estilo, com os drives certos, sob medida (drives esses que domina muito bem, diga-se de passagem) e feeling de sobra, o que explica uma boa parte do talento na gaita – aliás, que bom gosto ele tem no instrumento. O guitarrista, Marceleza Bottleneck, conhece as melhores rotas dentro de cada música, com riffs e solos inspiradíssimos, que conversam com a harmonia sem dificuldade. As linhas de baixo de Paulo Krüger e as escolhas do baterista Jeferson Gaucho, fazem a cozinha da Cracker Blues nada menos que perfeita, não pecam nem por falta e nem pelo excesso. Pode parecer bobagem e básico, mas presto muita atenção em bandas nas quais cada um sabe usar o seu espaço da melhor maneira, não simplesmente disputando espaço com seus companheiros de banda. Um riff, uma batida, um compasso bem aproveitado dizem muito mais do que se imagina sobre a química entre os músicos.

Recentemente eles passaram a integrar o Base Rock. Quando topei com Ma Giovananni, idealizador e produtor do projeto, fiz questão de parabenizá-lo, fiquei muito feliz ao saber desse tremendo reforço – que contou também com a adesão da Desert Dance, outra puta banda que conheci pelo Facebook do Ricardo Batalha, da revista Roadie Crew.

Entre bandas, projetos, blogs, revistas e noites no bar (como diria o pessoal do Mattilha), vamos tropeçando uns nos outros por mil caminhos, levando nosso estilo de vida adiante, tentando fazer alguma coisa, qualquer coisa ao longo da estrada. É dessas encruzilhadas que se vive o Rock N Roll. E, sem sombra de dúvida, também o Blues.

Fontes e Referências: http://crackerblues.com.br/
https://www.facebook.com/crackerbluesoficial
https://www.facebook.com/baserock.sp
http://www.baserock.com.br/